O telefone tocou. Um número que não constava na agenda, porém era vagamente familiar, apareceu na tela. Ela atendeu.
— Alô?
— Alô, quem é? – Aquela voz... Não era a primeira vez que ela a ouvia.
— Eu que pergunto: Quem é?
— Sou eu – ele esperou um pouco antes de dar o golpe –, Pedro.
Ela silenciou por alguns poucos segundos enquanto euforia, ansiedade, expectativa, saudade e medo tomavam conta de todo o seu corpo e ondas intensas de adrenalina inundavam o seu sangue.
— Não pode ser...! Pedro? Pedro?! É mesmo você?!
— Sim, sou eu.
— Você é louco – ela ficou sem saber se ria, se sentia surpresa, se lhe dava uma bronca ou se dançava a Macarena pelo quarto. – Você é louco!
— Eu sei disso.
— Tá tudo bem? O que aconteceu?! Você tá bem? – ela pensou em mil e um motivos pra ter recebido aquele telefonema, nenhum era lá muito bom.
— Sim, eu tô bem.
— Seis meses sem termos nenhum contato... e eu acreditava que jamais teríamos novamente. Pedro, o que houve?
— SEIS MESES... Parece que foi ontem, né?
— Não. Na verdade, pra mim pareceram seis meses. Agora diz o que aconteceu pra você me ligar depois de todos esses meses.
— Na verdade, já faz tempo que eu queria te ligar.
Ela não esperava por isso. Ela ainda pensava nele, ainda sentia saudade, mas não admitia isso pra ninguém. De qualquer modo, ninguém se importaria. O que ela não esperava é que ele também pensasse, que também sentisse saudade e muito menos que um dia ele admitiria isso, ainda que em outras palavras.
— E por que esperou os seis meses?
— Não tem motivo específico. Mas eu sabia que, depois daquilo, o próximo passo tinha que ser meu.
— Você tem certeza que quer isso?
— Se quero isso... O quê?
Ela parou um pouco pra pensar, o cérebro trabalhava a mil por hora lembrando de tudo. Lembrou como se conheceram, e como ela foi boba e desesperada, e como ele foi frio, e como o distanciamento se abateu inúmeras vezes, e como houve a decepção e por fim lembrou sobre como ela passou mal por quatro dias inteiros.
— Essa... reaproximação – ela sabia o que queria dizer, mas as palavras ficavam entaladas. – Você tem certeza que quer isso?
— Sim, eu tenho certeza.
— É que, você sabe... O nosso histórico não é muito bom. Se eu fosse você, eu fugiria de mim.
— Eu não quero isso.
— Eu mudei, Pedro – e grande parte da motivação dessa mudança foi ele. Ela se tornou um bicho arredio e amedrontado que adotou a indiferença e a agressividade para se defender. Não queria mais criar vínculos com ninguém, não queria mais expor o que sentia. Ela já tinha aprendido a lição. – E eu tô com medo que tudo aconteça de novo. Eu sou um gato escaldado e tenho medo de água fria.
— Então esse é o segundo “adeus”?
Não... Definitivamente aquele não era o segundo adeus. Ela não queria que fosse. E sentiu o coração ficar pequenininho diante da ideia de uma nova despedida.
— Não é bem assim... Eu só... Não sei como agir, entende?
— Então deixa fluir. Deixa ver no que dá.
E ela seguiu o conselho, deixou aquela conversa continuar enquanto notava a clara falta de costume que ela sentia após tantos meses de ausência. Ela sabia que precisavam reaprender a lidar um com o outro. Ela estava confusa e não sabia muito bem como agir com ele, muito provavelmente ele também estava tentando entender a nova pessoa que ela era (ou ao menos, que aparentava ser). Ela queria que ele se aproximasse, mas tinha medo de deixa-lo se aproximar novamente. Ela queria que eles voltassem a se conhecer, mas tinha medo das consequências dessa intimidade. Ela queria que ele continuasse a surpreendê-la positivamente, mas tinha medo de não saber o que viria. Ela queria tantas coisas, mas o medo a fazia conter a expectativa enquanto seu lado sonhador tentava se agarrar à esperança de que talvez um novo adeus não voltasse a ser necessário.
Ela vai mudar.
Vai gostar de coisas que ele nunca imaginou.
Vai ficar feliz de ver que ele também mudou.
Pelo jeito não descarta uma nova paixão,
mas espera que ele ligue a qualquer hora,
só pra conversar
e perguntar se é tarde pra ligar;
dizer que pensou nela
e estava com saudade,
mesmo sem ter esquecido o que passou.
Ele vai mudar.
Escolher um jeito novo de dizer "alô".
Vai ter medo de que um dia ela vá mudar
e que aprenda a esquecer sua velha paixão.
Mas evita ir até o telefone para conversar
pois é muito tarde pra ligar.
Mesmo que mude - Bidê ou balde
*Para fins de direitos autorais, declaro que imagens usadas no post foram retiradas da internet e os autores não foram identificados.