sábado, 10 de janeiro de 2015

Quantos gritos cabem no silêncio?

     Mais de um ano após a última postagem eu volto pra dizer que tanta coisa aconteceu que eu nem me reconheço mais. Procuro a pessoa que eu era na adolescência, e não acho. Procuro a moça da época da faculdade, e também não acho. A única coisa que eu acho é que estou numa espécie de crise do "quem sou eu?" Eu não sei quem eu sou, nunca soube, mas agora eu quero descobrir. Existem dias em que eu penso que sou só uma inútil, fracassada, que não tem nada a acrescentar de bom na própria vida nem na vida de ninguém, que não sabe lidar com sentimentos, alguém que não se ama nem vai ser amada. Nunca.
     Ultimamente eu tenho chorado fácil quando se trata de falar sobre meus sentimentos, e é por isso que nunca falo a verdade sobre como me sinto, nunca me mostro, tudo está sempre bem, meu céu está sempre azul, meu sorriso está sempre estampado. Mas a verdade é que só eu sei a agitação do meu oceano interior. Talvez eu seja assim porque durante o meu crescimento eu tive que aprender a dizer que tudo estava ótimo. Pois quando nada estava bem eu podia chorar o quanto quisesse, pedir ajuda o quanto fosse, mas no final só a imagem refletida no espelho me entendia e estava disposta a me ouvir. Já conversei tanto comigo em frente a um espelho enquanto chorava que até perdi as contas, e me incentivava "vai, sorria. Isso vai passar." Eu me forçava a sorrir pra mim mesma. Até via certa beleza naquele nariz escorrendo, naquela bochecha vermelha, naquelas lágrimas rolando. Respirava fundo, enxugava as lágrimas, limpava o nariz, e saía do quarto levando o meu maior escudo: O meu sorriso falso fabricado a partir da obrigação de mostrar que nada me atingia.


     Quando eu tinha 8 anos, eu estava brincando na calçada de casa, virei o pé e me estabaquei sobre um pequeno monte de paralelepípedos soltos. Levantei toda dolorida, ralada, e rindo enquanto me perguntavam se eu estava bem. "Hahahaha Tá tudo bem, gente." Não, não tava bem. Só comecei a gritar pela minha mãe quando vi que meu braço, minha mão e a calçada estavam cobertos de sangue. A ponta de uma das pedras abriu o meu pulso direito: uma belezura de dois rasgos, que me rendeu um total de doze pontos e uma pequena sequela em algum tendão flexor, o que me rende fisgadas no pulso e no cotovelo sempre que faço qualquer coisa que exige força.
     "Tá tudo bem", quantas vezes a gente diz isso quando nada está bem? O "tô bem" sai naturalmente em 90% das vezes. Não é que eu não queira falar sobre as minhas inquietações, sobre meus medos, sobre as minhas expectativas, sobre as minhas inseguranças, mas é que eu não consigo. E, aliás, quantas pessoas se importam de verdade? Acredite, escrever estas coisas está sendo extremamente difícil pra mim.

     Portanto, como é de se esperar, eu tenho dificuldade em me relacionar com pessoas, em me abrir, em me deixar ser tocada na alma; porque eu vivo sempre muito empenhada em só mostrar meu lado bom. Em ser "foda", em ser "alegre", em ser sarcástica, perspicaz, em dizer que nada me atinge. E em alguns destes momentos eu sou uma grande farsa, porém eu tenho consciência que isso é algo que tem que ser trabalhado dentro de mim, são marcas de acontecimentos aparentemente tolos ocorridos durante meus quase 25 anos, que deixaram cicatrizes na mente, que fazem parte da minha história e que eu finjo que não estão ali mas que vez ou outra acabam se mostrando pra me lembrar "você só é assim hoje e reage deste modo por causa de tal coisa que você ouviu/viu/viveu e te afetou". Não tem a ver com rancor, não tenho raiva das pessoas ou das experiências, mas isso não quer dizer que eu não lembre, que vez ou outra não me causem fisgadas na alma. E por que eu resolvi começar a falar agora? Bom, não pretendo falar sobre minha vida com pessoas nas quais eu não confio, muito menos escancarar tudo nas redes sociais, mas sou de carne e osso, e - apesar de ter uma vaga consciência das minhas qualidades - não quero fingir ser a Mulher Maravilha pra sempre.
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